Peneda

17-01-2017

Há regatos, pedras e tojos

Nas montanhas e vales

De ti próprio!

Há sabedoria e história,

Sangue que se perpetua

Nos ensinamentos intemporais

Da serra agreste!

Há um santuário...

E há o que eriges,

Feito de inabalável fé,

Com sinos que dobram

Nos ecos das tuas noites!

Há uma casa onde repousas

E sobre o chão que pisas

A madeira estala como outrora...

E sabes que a fome já percorreu os caminhos

Do vento que penetra as mesmas frestas

Da tua relativa abundância!

Há amor que se revela

E que reveste toda a paisagem

Do deslumbre dos teus olhos!

E há sepulturas no socalco,

Onde descansam os guerreiros

Do legado que usufruis!

E tu és tão pequeno,

Por saberes-te indigno

Da herança que recebes e que hás de transmitir!

Há pequenos desconfortos,

Sombras dos penedos das dificuldades

De quem trilhou percursos de humildade!

E tens uma truta no rio,

Sabes que há lobos que não vês,

Pequenas rãs em visitação do tanque,

Peregrinos que chegam,

Emigrantes que regressam para partir e a seguir voltar,

Para manter viva a aldeia

Que viveria para sempre sem ninguém!

Tens filhos seguros pelas mãos,

As mesmas mãos reencarnadas

Nos trilhos que percorres com vontade

Onde antes havia sacrifício!

E bem sabes que isso tudo és tu,

Que carregas por dentro as fragas,

Que as brandas dos verões

Alternam-se com as inverneiras,

Que a liberdade do gado

Contrasta com a prisão dos homens

Das cidades que habitas!

E tens as tuas referências,

Um céu que transparece estrelas normalmente ocultas,

O silêncio que te obriga a ouvir-te,

As pequenas coisas que tornam a vida enorme!

O rio preenche-te por tão pequeno

E não há mar que te chegue...

Porque tu és aldeia,

Porque derretes ao Sol,

Porque tremes de frio,

Porque te molhas com a chuva miudinha

Que te envolve no nevoeiro cerrado

E, bem sabes, que acima de ti,

Há montanhas que fantasias

Bem mais altas do que realmente são!

E tu és lobo e truta,

És gado que percorre o monte,

És rã que visita o tanque,

Peregrino e emigrante!

Há regatos, pedras e tojos

Nas montanhas e vales de ti próprio!

E haverá crianças da ria e do mar

Feitas de serra por dentro!

A terra pai fecunda gerações...

Insemina corações!

E tu bem sabes que és pouco,

E tu bem sabes que és louco,

Por seres do Mundo e da aldeia...

Há um santuário que eriges

Nas montanhas de amor,

Onde somente tens de regressar

Para te relembrares das pedras que permanecem!

Bases firmes do passado,

Terra onde assentas os pés

Para elevar os olhos ao céu do teu próprio futuro!

[ © Paulo Ricardo Moreira ] In "SER" 

© 2017 Paulo Ricardo Moreira
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